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"La Jetée" de Chris Marker (França, 1962)[]

Chris Marker - conhecido como poeta, jornalista, filmmaker, videomaker, designer, artista de instalação, documentarista, etc. - nasceu na França em 1921. Alguns dizem que ele nasceu na Mongólia, mas é característico de sua vida que tudo a seu respeito seja confuso. Marker evita entrevistas e até mesmo ser fotografado, é um ser curioso que até mesmo dizem ter vindo de outro planeta. Mas deixando as polêmicas à parte, Chris Marker apresenta uma maior notoriedade em seus documentários do que em suas demais áreas de atuação. Ele mesmo diz que sua obra é atemporal... O tempo de suas obras são exatamente o tempo presente, não importa se hoje, em 2005 se passe um primeiro trabalho seu.

Destoanto do restante de seues trabalhos, "La Jetée", curta metragem de 28 minutos, de 1962, é uma de suas melhores obras, servindo até de inspiração para o filme de Terry Gillam, Os 12 macacos, que seria uma versão estendia, com mais dinheiro e atores de peso como Bruce Willis, Brad Pitt. Mas La Jetée contém um caráter um tanto quanto melancólico. Graças á maneira da qual o filme é feito: praticamente são fotos preto e branco, que são dispostas à ilustrar o filme, parecendo uma história em quadrinhos, auxiliada por uma voz que narra as situações e a trilha sonora.

O filme é uma visão de Paris, após o que seria a terceira guerra mundial. O mundo está completamente destruído e a raça humana sobrevive em Bunkers à baixo da terra. Um menino vê uma moça no aeroporto de Orly na França, e nesse momento um homem é assassinado. Essa lembrança marca o menino. Nesse catastrófico “presente”, o menino que já se tornou adulto, é usado como cobaia por cientistas do governo para experiências com viagens ao passado, pensando em usar as lembranças dos testados para tentar reconstruir a humanidade como ela era. Alguns dos cobaias morrem, mas com esse rapaz, eles conseguem levá-lo de volta àquele mesmo aeroporto, onde ele encontra aquela mesma mulher. Os dois começam à conviver juntos, e se apaixonam, mas tudo isso é desfeito quando os cientistas conseguem o que querem. Após a experiência de sucesso, eles resolvem mandar este mesmo rapaz para o futuro, e encontra com pessoas estranhas, que deixa no fim das contas a grande duvida. Seria aquele presente, apenas um cenário feito pelos humanos do futuro para estudar o passado deles, da mesma forma que os cientistas estavam fazendo com a memória do rapaz? Parece que a humanidade não entendeu o que aconteceu, e se demonstra cíclica nos erros, tendo que voltar sempre ao passado para reconstruir o que a ignorância destruiu.

No futuro, as pessoas oferecem abrigo para que ele possa se livrar dos cientistas que estão forçando ele até as últimas conseqüências, mas ele prefere que essas pessoas o enviem para o passado, para que assim ele conseguir passar o seu resto de vida com a sua amada.

A forma que é passada pelo filme, principalmente por mostrar um futuro escuro, por causa dos túneis, e também pela repressão e tortura dos cientistas, contrasta com a claridade e a beleza do passado re-visitado pelo protagonista. Uma interessante fusão entre claro e escuro, mostrando o a conseqüência da falta de atitudes bem pensadas, que levaram Paris ao holocausto. Mas toda essa “claridade” vai aos poucos se perdendo, assim como a última imagem da mulher, que se esconde no escuro. Aqui o protagonista é levado de volta ao seu presente, e este lugar não é agradável

A poesia da linguagem fotográfica auxiliada pela narração, dá um caráter nostálgico no passado, e aterrador no “presente”, pela visão do cientista, os enquadramentos peculiares, como demonstrando a onipotência do cientista em detrimento do cobaia que está como sufocado na mesa de testes.

É um filme que leva créditos tanto pelo relacionamento do casal quanto pelas conseqüências de atitudes mal pensadas como foi dito, e muito mais para se pensar se é possível evitar que cheguemos à esse futuro ficcional, ou será que a mensagem do filme, e dos seres do futuro, não adiantou de nada, e teremos que recorrer à um personagem como o do filme, para que possa voltar no passado e nos avisar do erro do futuro. Pelo visto, parece que precisamos inventar logo uma maquina de viagem no tempo pois, parece que vamos precisar restaurar tudo no nosso passado, para evitarmos viver como ratos debaixo da terra.

É importante ressaltar o que Marker faz da sua representação do tempo, o tempo ciclico. Tudo começa e termina no mesmo lugar, na mesma hora, numa especie de etorno retorno futurista. O filme segue uma ordem lógica, levando em conta por razões de análise que o passado é o inicio da terceira guerra, o presente o tempo subterrâneo e o futuro o lugar para o qual o personagem principal é lançado: a personagem sai do passado para o futuro e dai tem o primeiro retorno, quando volta. Voltando ao presente, lançado ao futuro, retornando ao presente. As pessoas do futuro vão ao presente, que o lançam de volta ao passado, lá, ele fecha o ciclo, que tem ainda a volta de uma pessoa que é enviada do presente para matá-lo (se fizer uma espécie de gráfico com isso fica mais claro e fácil de perceber). A idéia de horror no filme, do desespero existencial pode muito bem ser encontrado nesta idéia, todos os tempos, reunem todas as coisas em uma só, do amor à morte.

Refrator | Cinema
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